A meio da comissão,
resolvi fazer uma surpresa.
Comprei uma passagem
de avião e viajei para a metrópole.
Além dos meus Pais, também os
meus amigos ficaram felizes. Quase de imediato fiquei a saber as boas novas, e constatei que para o meu
amigo Zeca Brasileiro as novas não eram boas.
No dia seguinte conforme combinado,
apareceu após o almoço de “peito aberto” munido de uma garrafa de Conhaque
Pedro Domec pronto a confessar-me tudo o que lhe ia na alma. Para não lhe
ficar atrás, comprei um enorme cartucho de amendoins, vulgo “ervilhanas,
alcagoitas, peanuts, ginguba e não só”, e percorremos a pé debaixo de um sol abrasador, a recta de 1 Km que
interliga a estação de NINE (Braga) ao cruzamento de Viatodos (Barcelos).
Durante o trajecto,
inteirei-me da gravidade da situação e solidários na dor, íamos comendo e
bebendo. Confessou que umas semanas antes, tinha feito mal, à namorada. Apesar de gostar muito dela, não devia
ter feito, o que fez. E pelos vistos, foi tiro e queda.
Concluímos pois, que (além da garrafa estar vazia), contra
factos não há argumentos. Ao contrário da impunidade de hoje…
“tinha de reparar o erro”
Conclusão: encontrei o Zeca quase
dois anos depois, já casado, em frente ao balcão de uma tasca, brincando e incentivando o seu
pequeno filhote que pegava ao colo que mal tagarelava, a beber uma pinga de
vinho encostando-lhe o copo aos lábios.
Quem diria, que o puto que à
pergunta: onde está o teu pai? Respondia - Foi pós cópus, e a tua mãe? a Mãe foi pós cópus, e assim sucessivamente, tem
hoje um curso superior. Como o tempo voa..
Entretanto, soube que afinal não era só Eu que estava de
férias. Também o Abílio que cumpria o serviço militar na Guiné, gozava as suas.
Este, fora incumbido para uma
agradável missão. Encontrar-se com uma costureirinha, a MADRINHA DE GUERRA de um seu camarada, que ‘sem dinheiro’ não pôde vir
à metrópole passar as férias. Graças a esse impedimento, deu azo a esta “história”.
ERA UMA VEZ...
O Abílio, que
conduzia “à revelia” um dos carros do seu irmão mais velho, um Mini Cooper cuja
bicha do conta-quilómetros foi previamente desligada, a Minha Pessoa, o Agostinho
Brasileiro, e o Zeca do serAmadeu (este Zeca é outro). Escusado será dizer, que
"de momento" estes 4 mancebos à vara larga, tinham todas as condições de que precisavam para
serem felizes.
O atellier onde a tal MADRINHA DE GUERRA trabalhava,
situava-se nos arredores de Sintra,
e para lá nos dirigimos.
Partimos de NINE de madrugada,
com alguns cobres no bolso. Durante toda a viagem, falamos, rimos e cantamos
ao som de um moderno auto-rádio que equipava a viatura. Era uma aquisição
recente do dono, pois ainda há pouco tempo tinha em reles rádio com leitor de
cartuchos. Agora possuía este e com leitor de cassetes.
Chegados a Sintra
por volta das 13 horas, decidimos fazer uma estravagância. Ir almoçar ao restaurante
de um lindo hotel com vista para o mar.
Safamo-nos da 1ª parte de guerra, será que sairemos da 2ª com vida?
À chegada, fomos convidados a largar o carro. O
mesmo foi levado por um funcionário do hotel, e rapidamente desapareceram da nossa vista.
Apreensivos “não será que o gajo era um ladrão fardado?” entramos no
restaurante e só por vergonha não saímos logo após.
Os pratos quase todos de marisco, com preços enormes na lista, ultrapassavam de longe as piores espectativas.
É fácil de concluir, que escolhemos os mais
baratos. O meu foi nem mais nem menos, que pombo bravo estufado com cebolinhas.
Enquanto esperávamos puxei de um cigarro e cada vez que ia pondo a cinza no
cinzeiro, surgia do nada um empregado que rapidamente o substituía por outro “obviamente”
limpo. Achamos graça ao ver tanta eficácia, e todo o mundo "para rir" começou a fumar.
Entretanto, imaginamos o nosso dinheirinho a voar.
Após o almoço, com tudo pago e sem vontade de rir,
chegou a hora de nos empenharmos na missão que nos levou a ir tão longe. Sem
GPS, depois de darmos voltas e mais voltas, acabamos por finalmente encontrar a
casa.
Descobrimos que a Madrinha já
contava com a visita do amigo do seu afilhado, só não sabia quando. Era certo pois,
que um aerograma qualquer nos tinha ultrapassado.
Sem demoras convidaram-nos a
entrar naquele acolhedor salão de costura. E de imediato fomos confrontados com
“a malandrice intrínseca das costureirinhas”.
Muito curiosas, enquanto que o
Abílio contava as peripécias da sua guerra na Guiné, Eu contava as minhas de
Angola. O Zeca e o Agostinho, eram meros espectadores ouvindo apreensivos, pois ainda não sabiam o seu futuro militar.
A Madrinha já refeita da
surpresa, agarrou à pressa qualquer coisa que não identificamos, e pediu licença para se ausentar. A seguir, reparamos algo estranho no comportamento das restantes. Pareceu-nos
que as Costureiras/Modistas “não entendo do assunto” evitavam o silêncio. Aumentaram
até o som do rádio, e queriam a todo o custo conversar.
Mas afinal, a conversa era outra.
Pelos vistos, a “MADRINHA DE GUERRA” que não recordo o nome, já prevenida, entrou para o WC e
não queriam que a ouvisse-mos, não porque andasse mal dos intestinos, mas porque levou um gravador de cassetes e estava a
gravar uma mensagem para o seu querido afilhado.
Largos minutos após “talvez mais
de meia hora”, a costureirinha regressou toda rosada trazendo nas mãos o tal
gravador. Uns minutos depois, era entregue ao fiel depositário um embrulhinho com
a cassete dentro, ornamentado com fitinhas de seda e um lacinho cor-de-rosa,
com a recomendação de que se tratava de algo valioso a ser entregue ao próprio,
por mão própria.
Ao que o Abílio garantiu:
Podes ficar descansada que o mesmo será entregue.
Mesmo sem vontade nenhuma, tivemos de
dar o fóra pois o “tempo ruge”. Depois de uns beijinhos de despedida, heis-nos
de regresso. Sem Auto-Estradas "ainda não tinham sido inventadas", tínhamos ainda para percorrer os cerca de 400 Km até NINE.
Com pouco mais de 20 anos de
idade, cheios de testosterona, alguns endereços anotados e a promessa de troca de correspondência, estávamos agora “cómodamente” sentados a bordo do Mini, comentando
as beldades que deixamos para trás, boas comómilho.
A viagem decorria sem incidentes, mas às vezes monótona. Para alegrar, intervalados com anedotas, ouvia-mos António
Mafra, Nelson Ned, o Roberto Carlos e muitos outros. Cantávamos alto e bom som,
no entanto, tudo tem limites. A música já enjoava, pois era repetida demasiadas
vezes.
O remédio era “de longe a longe”
falar-se delas “potenciais madrinhas também” cuja beleza não ficavam atrás da
do embrulho, que tanto andou de mão em mão. Depois de admirado, concluía-se que só alguém
com bom gosto e especialista em alta costura, seria capaz de fazer tal obra de
arte.
Era proibido dormir,
e após mais um indesejado silêncio alguém sugeriu:
e se ouvisse-mos a cassete?
e se ouvisse-mos a cassete?
É pá, isso não. Isso não se faz.
Resultado! Foi preciso ameaçar, para que fosse guardada. Corria-se o risco de o som da cassete
ficar imperceptível por desgaste, pois já se notavam uns ruídos estranhos de
tanto ser reproduzida.
Escusado será dizer que ficamos “escandalizados com as confissões
da Madrinha"
e qualquer semelhança do novo ‘embrulho’ com o anterior, era
pura coincidência.
Assim terminou a odisseia de 4 amigos.
O carro agora limpo e coberto com a capa, estava arrumadinho na garagem e com a
bicha do conta-quilómetros já ligada (isto de ter formação mecânica, às vezes
dá jeito), descansando até uma próxima. Apesar de ter andado mais de 800 Km, nada
ficou registado.
Mais tarde, soube do orgulho que
irmão sentiu, quando foi buscar o carro e reparou no conta-quilómetros. Aleluia, o Abílio “contra o seu costume”
finalmente tinha cumprido a proibição de usar a viatura.
Esta é uma “história”, de que não
me orgulho muito da qual fiz parte, e que recordei após Postar o artigo que colhi
numa revista famalicense, com o nome:
Combatentes e 'madrinhas de guerra'
trocavam cartas 'de fazer corar'
Infelizmente, alguns dos
protagonistas já não podem testemunhar,
pois mais de 40 anos se passaram
e a vida "ou a morte" é como o Django.
(Não perdoa).
pois mais de 40 anos se passaram
e a vida "ou a morte" é como o Django.
(Não perdoa).
Mini semelhante ao da história
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