Bairro do CAZENGA: Uma vez mais, a ronda.
Desta vez fomos alertados pelos residentes, que
diziam ter apanhado um “pilha galinhas”, e lá estava ele
choroso
de pé, em cima de um pequeno banco, atado a um mamoeiro.
Quando
o desamarrei, impressionou-me ver os vincos nos braços do meliante, fruto de um
demasiado aperto da corda que o amarrava.
Recordo o medo estampado no seu rosto,
não por ir preso mas porque “segundo dizia”, não tinha os braços. Por falta de
irrigação sanguínea estavam dormentes, pedi que os rodasse, o que fez de
imediato e com tanta força que parecia querer levantar voo.
Ao longe ouvia-se uma cantoria.
Mais tarde, quando o levávamos para a 7ª esquadra, verifiquei tratar-se de um funeral. Por respeito, todo o pessoal se calou, dando assim para ouvir
bem o que disse um "branco de 2ª" que já de grão na asa, falou:
isso mesmo nosso furriel, leve esses turras
para a prisão,
por causa desses merdas é que existe a guerra, etc. etc. Mas não ligamos.
No regresso, ainda lá estava.
Cada vez mais
bêbado, reconfortava agora a viúva, continuando a beber
"à saúde do morto".
Mandou mais umas
bocas, e de novo não liguei, mas o 1º cabo Mourão não: Identifique-se por favor.
Ó pá desculpa, não tenho comigo a
identificação.
Ai não tem? Então
acompanhe-nos.
Sou branco, sou camionista, sou português, …sou tudo.
Exacto, por isso mesmo, vai preso. E
foi.
..........+++..........
De novo, no Musseque do CAZENGA.
Logo de manhã à nossa
chegada, fomos recebidos quase de braços abertos por outro camionista. Conduzia um
camião carregado de café e segundo disse, desde a madrugada ansiava pela nossa presença.
Estava enrascado, porque enfiou o rodado da frente do camião numa vala e não conseguia sair.
Os moradores do
musseque, andavam a fazer uma casa nova.
Para ligar a água do fontanário
existente no outro lado da rua, abriram uma vala para
passar a mangueira, tendo o cuidado “para ninguém cair” de a
tapar, metendo
um ligeiro passadiço.
Era
uma vala tão pequena, que deu para enfiar o rodado da
frente do camião, ficando pendurado pelo radiador.
O meu Unimog era o famigerado “burro do mato”, equipado
com o famoso guincho, que quando necessário, nunca nos deixou ficar mal.
Era
preciso a sua ajuda uma vez mais.
Sem demoras conseguiu-se desenrascar o
senhor.
Agradecido puxou da única nota que tinha, “segundo
disse” uma
nota de 500 angulares, que quis dar. Recusei por diversas vezes, mas dada a
insistência, um soldado acabou por dizer:
Se o meu furriel não quer, queremos
nós.
O camionista ouvindo, deu-lhe a nota. Uns minutos depois após a sua ausência, combinamos gastar
tal quantia no marisco.
Fomos a um restaurante no Cacuáco. Era um local
à beira-mar, com uma esplanada e mesas redondas,
com telhado “também redondo” em capim.
Habituados aos
preços na metrópole,
esclarecemos de imediato o dono, que aquele dinheiro seria para o marisco, e as cervejas seriam à parte.
Éramos quatro de
cada lado atrás no banco, mais Eu e o condutor à frente, no total 10 militares.
Lagostas,
lavagantes, e “outros répteis”, foram até fartar. Continuavam a ser servidos
mais e mais pratos do material e avisamos o dono. Esclareceu que estava tudo controlado e que as cervejas estavam incluídas. Não pode ser. Achamos demasiado, e voltamos
a avisar.
O tempo foi passando, e empanturrados, resolvemos dar o fóra antes que
revisse as contas. Uns 100 metros percorridos, e ouvimos o senhor a chamar
bem alto. Meu furiel, Meu furiel.
Pronto, “estamos tramados” bem dizia-mos nós. Sem mais
dinheiro, agora vai ser o bom e bonito, vamos ter de deixar as G3 de penhora.
Comprometidos, voltamos e não queríamos acreditar. Queria dar-nos 200 de troco.
É chefe! Fique lá com isso.
Agradeceu, e sorridente
disse:
Voltem Sempre.
Vocês estavam era todos bébados.
ResponderEliminar500 angolares, era mesmo muuito dinheiro!
A dividir por 10 dava 50 cada um, com isso fazia-se um banquete, mesmo sem "répteis"!
Não havia ele de dizer "Voltem Sempre".
Poderia ter dito - parolos destes não apanho cá sempre!-
Bonitas crónicas baseadas nas memórias de um tempo com aquele fim que não "estamos à espera"...
ResponderEliminarGostei!
Abraços
Manuela