Era noite de carnaval
Todos saíram porque ao longe havia festa.
Eu, deitado com dores ainda acordado, ouvi um reboliço estranho à
porta da vivenda. Eram talvez três horas da matina quando presenciei as silhuetas no escuro, da chegada de dois colegas de quarto. Regressados, carregavam "uma overdose vínica” qual
deles o mais “pedrado”. Eram os vizinhos do lado direito e esquerdo da minha cama.
Eu, caladinho fingia dormir.
Já deitados, o Algarvio falava na secura que
sentia na garganta, por tanto tocar saxofone. Precisava de beber algo para
lubrificar a goela. A conversa deu-me vontade de rir.
Ao ouvir um deles
sugerir que à falta de álcool se bebesse o frasco de aftershave, tive de
interferir.
Acalmaram um pouco, mas o sossego foi de pouca dura.
O algarvio começou a pensar no sacrifício e na abstinência "sexualmente falando", que faziam para serem
fiéis às namoradas e madrinhas de guerra que deixaram na metrópole.
Elas seriam fiéis? Se calhar até andavam metidas com o padre da freguesia.
O Camarada concordou. Rapidamente chegaram à conclusão que Elas não mereciam tal
sacrifício. O melhor seria queimar as cartas e aerogramas que guardavam com
tanto carinho e dedicação.
De novo interferi, mas não me ligaram nenhuma.
Já tinha reparado na preocupação e gosto, de
“tanto um como o outro” classificar e guardar a correspondência. O Algarvio principalmente,
passava o tempo a ler e reler e meter elásticos para depois “bater” com o molho na mesa,
para ficar tudo direitinho.
Sem poder fazer nada mandaram-me calar.
Em menos de
nada rebentaram os elásticos, e fizeram no chão, um amontoado de cartas aos pés da minha cama.
Ao ver despejar o aftershave por cima, uma vez
mais chamei a atenção para não fazerem aquilo, que se iam arrepender, mas debalde. Mandaram-me calar de novo.
Contrariado e com os braços “atados” não tive outro remédio.
Contrariado e com os braços “atados” não tive outro remédio.
Incrédulo, vi o Colega riscar
um fósforo, e qual mágica,
“instantâneamente” o Algarvio (agora lúcido..?!) saltou para cima da fogueira tentando desesperadamente apagar o fogo. Insultando o colega do piorio, por estar a pôr fogo nas suas ricas cartinhas, Eu "danado" só disse:
“É bem feito! É pena não ter ardido tudo”.
“instantâneamente” o Algarvio (agora lúcido..?!) saltou para cima da fogueira tentando desesperadamente apagar o fogo. Insultando o colega do piorio, por estar a pôr fogo nas suas ricas cartinhas, Eu "danado" só disse:
“É bem feito! É pena não ter ardido tudo”.
Quase de seguida, vejo a mão do Algarvio descendo com o punhal direito ao meu peito. Só parou “por milagre” porque entrou (o único
morador que não era Furriel) um cabo cripto, que lhe agarrou o braço mesmo a
tempo.
+++
Se não sabes beber, bebe
merda! Foi a minha resposta, quando na manhã do dia seguinte o Algarvio “ressacado”
me perguntou qual era o meu problema, para Eu não lhe dar os bons dias.
Contei-lhe o que tinha acontecido, mas o marafado não acreditou.
Não se lembrava de nada.
Contei-lhe o que tinha acontecido, mas o marafado não acreditou.
Não se lembrava de nada.
Para o castigar, andei sem
lhe falar “zangado” quase uma semana, depois fizemos as pazes e com um abraço, tornou a ser
o Compincha de sempre, que junto com todos os outros, me tratavam da saúde.
(não digo os nomes, mas os camaradas da 2506 e não só, entendem perfeitamente)
Quando saí do hospital, por imposição do médico, trouxe por precaução uma caixa de injecções que guardava num frigorífico.
Da
família dos antibióticos, destinava-se “se necessário”, a aplicar no caso
de uma infecção pouco "provável" dado o extremo cuidado que eu tinha.
Certo dia passando pela rapaziada, perguntaram-me
quem era o Fulano que me procurava. Parecia “aflito”.
Eu desconhecia tal facto, e pelos vistos andávamos desencontrados.
Seriam notícias da Metrópole?.
Eu desconhecia tal facto, e pelos vistos andávamos desencontrados.
Seriam notícias da Metrópole?.
Preocupado fui para casa, e
finalmente à tardinha, apareceu a misteriosa pessoa.
Era afinal, um Alferes de Gago Coutinho que andava
desesperado com a temível Blenorragia – vulgo (esquentamento).
Não sei como é que soube, que Eu tinha e guardava injecções "pelos vistos" também ideais para tal cura, que na altura estavam esgotadas.
Ouvi com atenção o seu desespero, e ofereci-lhe a caixa.
Com a alegria, só não me beijou na boca.
Mais tarde quando contei aos Camaradas, fui criticado por ter dado a caixa inteira, dado que não sabíamos o dia de amanhã.
Não sei como é que soube, que Eu tinha e guardava injecções "pelos vistos" também ideais para tal cura, que na altura estavam esgotadas.
Ouvi com atenção o seu desespero, e ofereci-lhe a caixa.
Com a alegria, só não me beijou na boca.
Mais tarde quando contei aos Camaradas, fui criticado por ter dado a caixa inteira, dado que não sabíamos o dia de amanhã.
Como andei engessado tanto tempo “mexendo só
os dedos da mão”, verifiquei como se previa, que tinha o movimento do braço limitado quando retiraram o gesso.
O tempo ia passando e como não me faziam uma recuperação eficaz, (já tinha chamado a atenção disso ao médico por diversas vezes) exigi que me mandassem para a fisioterapia em Luanda. O médico riu, insinuando que Eu queria era passar umas férias na capital. Contestei mas depois concordou.
O tempo ia passando e como não me faziam uma recuperação eficaz, (já tinha chamado a atenção disso ao médico por diversas vezes) exigi que me mandassem para a fisioterapia em Luanda. O médico riu, insinuando que Eu queria era passar umas férias na capital. Contestei mas depois concordou.
Uns dias depois recebi ordem para embarcar.
Agradecido e despedindo-me da rapaziada, apresentei-me no aeroporto do Luso à hora marcada.
Juntei-me a um pequeno grupo com o mesmo destino. O sermos evacuados para Luanda.
Agradecido e despedindo-me da rapaziada, apresentei-me no aeroporto do Luso à hora marcada.
Juntei-me a um pequeno grupo com o mesmo destino. O sermos evacuados para Luanda.
Já com o cinto de segurança apertado, e a bordo de um avião com a lotação esgotada, fomos "convidados a desembarcar", para dar a vez a umas Irmãs que surgiram do nada, que muito atenciosamente nos agradeceram e pediam desculpas pelo incómodo.
Azar o nosso. Vamos de volta e fica para a próxima.
Apeados em terra no meio da pista, vimos em segundos as Freiras subirem aos céus, para ficarem mais perto de Deus.
Continua...
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