CAMARADAS:
também Me acho no direito, de fazer “esporádicamente” umas
manobras de diversão
Resposta prometida, àquele grupo do “rodízio de peixe” que encontrei em
Setúbal.
Uma
vez mais obrigado pelo convite. Nunca pensei que um grupo tão jovem, visse o
Blogue da 2504 e estivesse tão bem informado acerca da ”Guerra do Ultramar”. Aconselho-vos
no entanto, que a empanturrarem-se dessa maneira, não irão muito longe.
Como vos disse: Acho preferível ter o
Blogue “parado”, a postar coisas dos outros ou “estórias da carochinha” cuja
credibilidade possam ser postas em causa, de pessoas que não se conhece.
Nesse caso, e como sei que “felizmente” já
vivi situações diversas, sempre que se proporcione posso aqui escrever verdades
minhas “que podem ser retiradas a qualquer momento do blogue” que pense não
fugir muito, aos temas aqui expostos. Com boa vontade as que seguem, podem ser englobadas
nos temas: explosivos, e transmissões.
Tudo isto, enquanto aguardo histórias prometidas,
dos Camaradas da Minha Companhia
Por ser filho de um
Guarda-fios da CP, o que não faltavam lá por casa, eram fios de telefones,
grande quantidade de rolos de arame, alicates de diversos feitios, etc, e não só.
Desde muito cedo, foram tais utensílios e ferramentas, que despertaram o Meu interesse
pela “bricolage”
+++ +++
Quando a luz eléctrica faltava sem
motivo aparente, o meu Pai conhecedor do meu silêncio e dos meus hobbys,
detectava sem esforço a minha presença em casa. “Adivinhando o sucedido”, falava
alto e bom som para que Eu lá no quarto, ouvisse o “raspanete”: …e ”um dia, hás-de acabar electrocutado se
continuas a brincar assim”. Nesse dia, ou melhor, nessa noite, além do
“pirolito” que até me fez estremecer, desequilibrei-me e desabei da cadeira abaixo,
acabando por ficar às escuras.
Após
arranjar os fusíveis, subiu de imediato as escadas para se inteirar do
barulho, e encontrou-me ainda às escuras, meio abananado. Descobriu que, o candeeiro do tecto tinha “naquele momento” somente uma
lâmpada e mesmo essa, estava apagada. Fora ela, a causadora do incidente, porque o
curto-circuito acabou de a fundir quando tentei desenrosca-la. Ficou
ainda a saber que as “colegas”, jaziam há uns dias partidas, dentro de
uma velha caixa de sapatos.
*** --- ***
Ignorando
que na minha vida profissional também seria um Desenhador, já na Primária
gostava muito de rabiscar. Os meus Pais entretanto, achando-lhes graça e
orgulhosos do filho, chamavam-lhe desenhos. Assim sendo: Eu já
desenhava em papel transparente, nas tiras que cortava do papel vegetal
que a minha Mãe usava quando fazia doces, principalmente a marmelada. Já
possuía pois, uma razoável série de bonecos aos quadradinhos, e por
isso até, já tinha construído uma pequena “máquina de cinema”. Faltava
só, arranjar a lente para projectar na parede.
Ora
nada mais fácil, que retirar o casquilho e o filamento a uma lâmpada e
enche-la com água, para dar um efeito capaz. Resultado: além de alguns
pequenos cortes nas mãos, a coisa estava difícil, pois era necessário
fazer diversas tentativas para obter um resultado satisfatório.
Procurava por todos os meios
ficar sozinho, pois queria fazer a surpresa aos meus irmãos. Mas estar só era perigoso
e difícil. Evitavam-no, porque tanto o mais Novo como o mais Velho, nunca foram
grandes entusiastas das minhas brincadeiras e chateavam-me o juízo por “acharem”
que andava a arriscar muito e que era uma perda de tempo.
Mas estavam enganados,
pois ainda hoje recordo “antes mesmo de aparecer a televisão” o gozo que me
dava, quando no silêncio da noite e de bruços na cama, via os meus
pequenos filmes ampliados na parede, projectados a largos centímetros de
distância. Eram quase todos a cores, pois já os ia colorindo
cuidadosamente, com lápis de côr e aguarelas. Era uma operação difícil
porque o papel vegetal “encarquilhava” com muita facilidade. Aplicava então
“tal como se fazia com as pétalas das flores, que as namoradas nos
ofereciam” a técnica de as prensar até secarem, no interior das folhas
de um velho jornal.
Já mais adulto, na Escola Secundária, mesmo
frequentando um curso Industrial virado para a mecânica, continuava entusiasta
da electricidade. Aplicado nos estudos o quanto baste, recordo o dia em que o
meu Pai “estranhando o meu comportamento” me dizia: é pá, a estudares tanto assim, deves andar muito doente.
Mal
sabia Ele, que o Professor Paulo, meu professor das disciplinas de
Tecnologia, Orçamentos e Contas d’Obra, de Desenho de Máquinas e
Esquemático, e ainda da disciplina de Electricidade, tinha prometido
oferecer “como era seu hábito, para incentivar os estudos” um novo
prémio. À pála disso, já tinha ganho uma lapiseira Caran d’ache e
aquela que foi a minha primeira Régua de Cálculo. Estas, encontram-se
agora expostas no meu museu. O museu do BAIXATOLA’s BAR em Vila Nova de
Famalicão.
Ando
ansioso por encontrar o "agora velhinho" Professor Paulo Dias Costa, para ver se
ainda se recorda desta relíquia. Com escalas na frente e verso como todas, fora
uma oferta da AEG, que há mais de 50 anos ganhei e ainda guardo, com todo gosto. De
plástico e cartão prensado, fartei-me de a utilizar, e se comparada com uma “científica”
da Ariston que também possuo, mais parece uma amostra sem valor.
Só que desta vez o novo
prémio, era para mim, um “Grande Prémio”, e não o podia perder.
Uma GALENA
Resultado, estava agora a braços com um grave problema: o de retirar o fulminante
de um cartucho “novo” de espingarda, que um caçador me ofereceu. Podia ter-me oferecido um usado, mas só se fosse no fim-de-semana próximo. Como Eu não quis esperar, e
embora fosse fácil, não o “estourou” para não alertar a vizinhança àquela hora
tardia em que lhe fui pedir. Ofereceu-mo mesmo assim, com alguma relutância,
porque lhe menti garantindo que não seria Eu quem ia executar a delicada operação.
Com os meus 13/14 anos de idade,
retirei com cuidado, a bucha, os chumbos a pólvora, faltando agora o
fulminante. Escusado será dizer que tanto o Caçador como os meus Pais,
desconheceram todas estas operações “suicidas”.
E tudo porquê: Porque o autor do livro onde tinha na capa o Esquema
da galena que ganhei, a páginas tantas sugeria que para se construir a bobina
das ondas médias e curtas, podia ser utilizado como núcleo, um cartucho “usado” preso
na vertical, de uma espingarda calibre 12. Então, pensando num estratagema
“seguro”, muni-me de prego e martelo, e com todo o cuidado, arranjei maneira de
o percutir, e retirar. Era nesse buraco, que o autor sugeria onde meter, o
parafuso que o fixava ao “chassis”.
Ainda mal recomposto da “surra” recebida, graças à nova descoberta de fazedor de navalhas*, uma vez mais o meu
Pai ralhava, ao ver-me pendurado no alto de um eucalipto “que existia do
outro lado da via-férrea em frente da minha casa”, pedindo ao meu irmão mais
novo (Carlos), para me ajudar a esticar um arame à volta dos isoladores de
porcelana, e que se destinava a fazer de Antena do ar, tipo Dipolo. Para fazer
a Antena da Terra, bastava ligar outro arame a uma estaca metálica espetada no
chão. Sugeria de novo o autor, que para essa estaca fazer melhor efeito, o
ideal seria estar enferrujada. Então juntos, “Eu e o meu Irmão” decidimos dar
uma valente “mijadela” para acelerar o processo. Mas como estava em pulgas para
ver o resultado final, não quis esperar que os “glutões” corroessem o metal. Embora
menos eficaz, decidi ligar a antena a um cano da água enquanto que o anterior
não estivesse a 100%.
Tinha finalmente tudo
o que era necessário, faltava só a montagem.
(Foto de uma montagem, "quase" igual à minha)
Quase, porque em vez de "abraçadeiras" eu usei pequenos pregos, e para ligar os auscultadores em vez do jack, usei uma tomada eléctrica para ligar a uns iguais ao da imagem abaixo.
Impaciente, queria confirmar como é que aquela máquina ia dar som, sem
electricidade, sem
pilhas, sem nada, tal como garantia o autor.
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Para prestar mais atenção, já me doíam as orelhas de tanto apertar os auscultadores, mas o raio da geringonça insistia em não falar. A meu lado, o meu irmão não queria ajudar, e até já gozava comigo (Atenção senhores ouvintes, aqui transmite a Emissora Nacional etc etc). Zangado, jurei que se aquilo funciona-se, nunca o deixaria ouvir.
A paciência tem limites. Já "mais que uma vez" tinha
revisto todo o esquema. O Cristal de Galena estava bem montado, as ligações
estavam “nus conforme” rodava o condensador variável procurando as estações,
mas em vão. O bicho continuava quedo e mudo. Como o meu irmão continuava no
gozo, passei-me dos carretos, “Amandei-lhe” com o equipamento, e dei o fóra. Foi
por um triz, que não lhe acertei.
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Ao longe e zangado, quando já tinha percorrido largas dezenas de metros, ouvi o meu irmão a chamar-me, transfigurado. Gesticulando, com os auscultadores na cabeça, jurava que estava a ouvir perfeitamente. Bastante diferente do meu irmão António (já falecido), que era o mais velho, que tinha sempre razão, sabichão, e inventor, “do qual falarei numa próxima”, Este mais novo, era e é um brincalhão por natureza. Pensando que continuava no gozo, obriguei-o a jurar e a muito custo acreditei. Afinal era verdade. Graças a um mau contacto,
aquele malandro acabou por ser o primeiro a ouvir a Emissão Radiofónica do momento, o “Teatro TIDE”. Foi "que me lembre" a 1ª rádio-novela a existir, e "segundo constava" todas as Sopeirinhas adoravam ouvir.
Certo dia, trovejava e chovia a cântaros, quando a electricidade de
repente, se foi.
Deu-se um apagão geral.
A minha Mãe (Luiza) apreensiva, “pois
nunca gostou de trovoadas” ficava sentada a um canto da cozinha, rezando uma
oração, para que a Santa Bárbara terminasse com a tempestade. Contra a minha
vontade e a do meu Pai (Amândio), “que sabiamos quem era o Benjamin Franklin”, uma
vez mais nos aconselhava a colocar um objecto de aço “normalmente era uma
foice” por cima dos barris do vinho “para não azedar” e não satisfeita com
isso, ainda cobria a máquina de costura com um cobertor. Oriunda do Alentejo
“onde além dos chaparros, não existiam pára-raios”, era segundo parece, uma técnica
infalível.
Poucos minutos depois, recordo a invasão dos meus Amigos
que sabendo que a minha galena
trabalhava mesmo sem electricidade, queriam continuar a ouvir a voz do
inconfundível Artur Agostinho que na altura relatava um jogo de futebol do Fê
Quê Pê, que estava a dar uma cabazada ao seu antagonista que não recordo qual. Mas
como éramos todos Portistas e dada a alegria reinante, desconfio agora, que seriam
aos mouros.
Esclareço os meus amigos, que de electricidade pouco mais sei, do que: a Electricidade é uma coisa que não se vê, mas sente-se.
* Com respeito às navalhas, esclareço o leitor que vivíamos numa casa da CP que estava implantada no interior de um triângulo “isósceles”. Com os dois lados iguais compostos pelas linhas dos comboios Porto/Viana e Porto/Braga, tinha como base, outra linha ”menos usada”, que interligava as duas primeiras, e se destinava a fazer a inversão do sentido de marcha das locomotivas. O nosso quintal das traseiras era tão perto dessa, que bastava esticar bem as pernas para colocar um pé no quintal e o outro em cima do carril.
Todos os funcionários da Estação de NINE conheciam bem “os Pimentas”, e por isso mesmo fora facilmente identificado. Desta vez fui denunciado por um maquinista que me reconheceu quando me estava a esconder, porque “uma vez mais” me viu a entalar a cabeça dos pregos nas emendas dos carris, para que os mesmos não caíssem quando os rodados do comboio passassem sobre eles, para os transformar em lâminas. Andávamos com a ideia de criar um clube de futebol, e era graças a isso “tal como mais um ou dois colegas” que ganhávamos uns cobres, na feitura e venda, de navalhas, facas e afins.
Continua...