domingo, 5 de janeiro de 2020

2020 - Lado-A/Lado-B

CAMARADA:

Na postagem anterior, por causa de um mentiroso;

 Fui obrigado para colocar os pontos nos iiiis,
a recordar uma vez mais o Lado-B da nossa guerra. É o lado que a todo o custo tento esquecer, mas infelizmente “pelos vistos” não me deixam.

Recordar-te-ás que foi meu propósito aquando a criação do Blogue, contar e “postar” essencialmente, o Lado-A . O lado onde tenho registado tudo o que de Bom “e menos bom” Me aconteceu. Ao contrário do outro, do azar, tenebroso, e não só.

E por falar nisso, com as minhas desculpas aos nossos Seguidores por tal ter acontecido,

Conto agora a 2ª parte de uma história “já contada”.

Parte esta, que quase ficava entre o 
A e o B.



No “33°- Convívio anual dos Furriéis da 2504”
que ocorreu no ano passado (2019) em Anadia
recordei uma vez mais, que me tinham roubado todas as peças da farda,
que estavam ao cuidado da minha lavadeira de Quibaxe.

Numa de leva e trás; foi quando ia fazer a transacção, Roupa suja/Roupa lavada, que Ela me deu a notícia...
(Meu furrié... Tás fudido)

https://ccac2504.blogspot.com/search?q=lavadeira

"15 dias depois"

Novamente em Quibaxe,
para novo reabastecimento.


No que à roupa diz respeito
"nos intervalos ia-me desenrascando



(Aqui, no Rio Dange, lavando roupa íntima)


Como não a vi à minha espera para me dar a roupa que lhe tinha entregue, e também para saber se a outra tinha aparecido, resolvi ir à procura dela.

A nossa chegada a Quibaxe foi bem cedo, e o regresso ao Dange,
ficou marcado para as 6 da tarde.

Com as tarefas orientadas e as tropas a responder com aquela eficácia,
Deduzi que tinha a tarde por minha conta.

++++
Assim… Com uma noção “mais ou menos precisa” de onde morava,  e após dizimar o belo bife de pacaça no Restaurante habitual pus mãos à obra.

Desci a Avenida, e perguntei por ela a uma colega (Lavadeira) que na paragem aguardava " confortávelmente" o machimbombo, 
Respondeu: Deve estar em casa.

Como já me tinha convidado mais que uma vez para ir lá a casa, sabia que residia a poucas dezenas de metros do musseque principal.

Ultrapassei-o, e descobri ainda ao longe, que as palhotas seguintes estavam do lado de lá de um pequeno vale onde poderia existir um riacho, e afastadas umas das outras alguns metros.

*********
O capim à minha frente era enorme. Cada vez mais alto, por vezes não deixava ver as palhotas nem tão-pouco o musseque atrás.

 Não havia problema pois o sol estava no auge e “um gajo do norte” não vacila…

O caminho,
de Picada passou a trilhos.


Acoisa parecia mais fácil.

Uns trilhos num capim denso, que pareciam ter “taipais” dos lados, e sido desenhados por arquitectos do Dubai,
“tinham a configuração de uma palmeira”

Parecendo que cada residente tinha o seu trilho de acesso privativo, os mesmos “com uma largura bem inferior ao metro” iam divergindo do principal a “todo o momento”.

Restava-me a consolação que no regresso, no sentido Palhotas/Musseque seria bem mais fácil. Podia seguir quase de olhos fechados, dado que as “diversas folhas da palmeira” convergem para o tronco.

A meio do percurso, porque o céu começou a escurecer, estive tentado a desistir.

Mas: Como “um homem é um homem e um bicho é um bicho” continuei.

Ultrapassei com um pequeno salto o riacho, que afinal mais parecia uma vala.

Andei mais algumas dezenas de metros, e quando vi aquela barraca...
Chamei por Ela; 

kalívio” por sorte acertei.

Porra, moras no cú de judas.

Apesar da surpresa, fui recebido com pompa e circunstância, convidado a entrar.

Entrei no open-space, e sentei-me expectante numa espécie de baú.

De repente: Se por acaso estivesse para acontecer algo, tudo se desmoronou.
E porquê?

Porque a amena cavaqueira "do nada", foi abruptamente interrompida pelo estampido de um enorme relâmpago.

Só não digo que entrou pela chaminé, porque a palhota não a tinha.

Quase saltei. De imediato um vendaval, e o dilúvio desabou..


Recordo, que estávamos estacionados na mata dos Dembos, precisamente no Dange, protegendo a construção de um Fortim e de uma Ponte sobre o rio.

(No interior do Fortim, Eu com três Camaradas, Furriéis da Engenharia)

 Os relâmpagos ininterruptos penetravam com facilidade naquilo que outrora teriam sido “sólidas” paredes, iluminando totalmente o interior da palhota.

Entre os raios e coriscos, uma coisa Me chamou a atenção.
Do tecto em capim, nem uma pinga.

Os minutos passaram a horas, e o temporal não amainava.
Com respeito à minha roupa, chegou-se à triste conclusão que o melhor era esquecê-la.

Talvez para fazer sala, simpaticamente pegou naquilo que mais parecia um mamão e ofereceu.
Sem vontade de comer o que quer que fosse, agradecido recusei.
O que Eu queria naquele momento, já não era comer, era sim regressar.

Reparei que comia com satisfação e fiquei intrigado quando disse:
FURRIÉ, ainda bem que não queres. Se comesses ficavas umas horas com o pau feito. !??.

“Desconheço o que seria, mas já pensei em telefonar-lhe”

****
***
*
Meu FURRIÉ
Não adianta. A chuva não vai passar. Se quiseres eu acompanho-te.

Obrigado, não vale a pena. Escusas de te molhar. Dá-me aí a roupa, que Eu agora já sei o caminho.

A chuva tinha amainado um pouco, e os relâmpagos eram agora mais longe e espaçados.

PARTI
"Chuva civil, não molha militar"

 Uns metros andados "todo encharcado" parecia um pinto.
Se soubesse tinha trazido o raio do ponche que ficou no Unimog.  
O céu cada vez mais escuro, por vezes já não dava para ver o chão.

O riacho que parecia uma vala, alargou,
e dava-me agora pelos joelhos.

"O trajecto parece que tríplicou"


De um lado e de outro, nas zonas em que o capim era alto, orientava-me olhando para cima.

“Acagaçado” naquela penumbra, segurava com afinco a minha G3, e seguia silenciosamente.

Não sei como nem de onde, esbarrei com algo que “tal como eu” também falou.

Eram dois Blékes que vinham em sentido contrário. Fiz voz grossa. Talvez por terem visto o reflexo das minhas divisas naquele autêntico luar, pediram desculpas diversas vezes.

Não morri de susto por um triz.


Quando finalmente cheguei à Vila, o meu camarada algarvéu Furriel Brito, deu-me um raspanete.

Porra. Má que jêto moço. Onde te meteste?

Eu e o Costa (o Alferes) estávamos preocupados, fartos de te procurar.

(Temos de partir, já)

Se a chuvada foi geral, agora no regresso, vamos ter de levar as Berlietes ao colo.


Têm toda a razão. Por nunca ter imaginado demorar tanto tempo, não lhes tinha dito nada

Mesmo com as botas 
encharcadas troquei de roupa,
e “sequinho” jurei pra nunca mais.


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