Diário de Notícias: 15/02/2016
Militares querem abrir um hotel no
Hospital da Estrela
Igreja e antigo Convento de Nossa Senhora da Estrela, "actual" ex-Hospital Militar Principal
(Monumento de Interesse Público)
O
projeto do Instituto de Ação Social das Forças Armadas inclui ainda um posto
clínico, centro de dia, creche e colónia de férias
Criar um hotel de três estrelas para turismo militar nacional e
estrangeiro no centro de Lisboa, em instalações com décadas de história
castrense e vista para a Basílica da Estrela é o projeto que está na mesa do
ministro da Defesa e foi apresentado pelo Instituto de Ação Social das Forças
Armadas (IASFA).
A proposta envolve outras valências de apoio social à família militar
(dos bebés aos idosos): creche e berçário, jardim-de-infância, posto clínico,
colónia de férias, centros de reabilitação física e de dia ou de tempos livres
- a instalar nos edifícios do antigo hospital militar do Exército junto ao
Largo da Estrela, onde seria instalada a sede do IASFA, e por trás da basílica.
Está previsto um investimento global de 14,5 milhões de euros.
Os edifícios - há anos objeto de interesse do setor privado - seriam
cedidos pelo Ministério da Defesa por algumas décadas (30 ou 40 anos, em
regra). E, como a proposta mantém o uso militar anterior, respeitará o Plano
Diretor Municipal (PDM) de Lisboa, admitiu uma das fontes ouvidas pelo DN.
Os 106 mil beneficiários do IASFA formam o universo de utilizadores
desses serviços, mas o número potencial é superior. É que, por um lado, a
valência de turismo social abrange as instituições estrangeiras congéneres que
integram o Comité de Ligação Internacional dos Organismos Militares Sociais
(rede internacional de turismo social militar). Por outro, a sociedade civil
também pode usufruir do hotel a preços de mercado, para dessa forma garantir
uma taxa de uso máxima, referiu outra fonte.
A par dos resultados de exploração pelo IASFA do chamado "hotel de
trânsito militar", do museu e do aluguer de espaços - incluindo a capela -
no antigo convento fundado em 1573, ou dos serviços sociais e de saúde junto à
basílica, a proposta prevê libertar três imóveis do instituto "com grande
potencial para gerar receita própria".
Esses edifícios são o Palácio Magalhães - onde funcionou a Cooperativa
Militar - na Rua de São José (Lisboa), a sede do IASFA (Picoas, Lisboa) e o
ex-Lar Académico Militar (Oeiras). O primeiro tem capacidade para 50 a 70
quartos e aí já funciona um restaurante; o segundo pode ser arrendado; o último
um resort turístico, a 300 metros da praia de Santo Amaro.
Quanto aos edifícios a libertar em torno do Largo da Estrela - ao
abrigo da Lei de Programação de Infraestruturas Militares e identificados como
prédios militares n.º 39 e n.º 40 -, estima-se que o investimento seja de 14,5
milhões de euros, metade feito pelo IASFA (7,3 milhões) e o restante com fundos
comunitários (7,1 milhões).
Segundo os autores do projeto, os resultados de exploração dos imóveis
atingirão os 1,9 milhões de euros anuais. Isso rentabilizará o investimento em
quatro anos - ou em sete anos e meio, no cenário em que não prevê o acesso a
fundos comunitários.
Com o IASFA a debater-se com fortes problemas financeiros - traduzidos
no que muitos beneficiários do centro de apoio social de Oeiras dizem ser uma
quebra da qualidade dos serviços prestados -, o plano estratégico prevê a
rentabilização do seu património imobiliário: venda ou arrendamento.
Isso tem suscitado fortes reservas - nomeadamente de oficiais - por
entenderem que esse património foi construído só com verbas dos beneficiários.
"O IASFA é nosso, foi com os descontos e quotas dos militares que se
construiu" o que "é apetecível para muita gente", afirmou o
presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA).
"Não colocamos em causa a competência" dos civis nomeados
para gerir o IASFA, mas "o que entendemos é que podem estar lá sob o nosso
mando" e com o principal chefe militar "à cabeça", adiantou o
coronel Manuel Cracel.
Esta afirmação choca com o facto de o IASFA não fazer parte das Forças
Armadas. Depois, a forma como aquele património imobiliário surgiu parece
corresponder a um mito: os descontos e quotas dos militares - só obrigatórios
para todos nos anos 1980 - atingiram montantes que permitissem adquirir tantos
imóveis?
Questionado sobre isso, o presidente da AOFA respondeu com uma nuance:
"No mínimo contribuíram com uma quota-parte muito significativa."
Também é possível verificar que alguns edifícios foram adquiridos com
os impostos de todos os portugueses, como é o caso do referido Palácio
Magalhães - ou Palácio de São José: o edifício construído no século XVIII
"foi adquirido pelo Ministério da Guerra em 1948 à marquesa de Santa Cruz
dos Manuelles", informa a câmara.
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