= Lunguebungo =
Destacados da Companhia que estava aquartelada no Lucusse,
o meu pelotão foi para o Lunguebungo dar protecção à J.A.E.A. (Junta Autónoma
de Estradas de Angola),
que fazia na altura, uma pista de aviação para os Fuzileiros.
que fazia na altura, uma pista de aviação para os Fuzileiros.
Aqui tivemos uma vez mais, a confirmação de que
a guerra não era igual para todos.
Enquanto que os da Marinha viviam à grande e à francesa com todas as condições "que considero serem as ideais", nós do Exército, mais precisamente da Infantaria,
éramos uma miséria franciscana.
Enquanto que os da Marinha viviam à grande e à francesa com todas as condições "que considero serem as ideais", nós do Exército, mais precisamente da Infantaria,
éramos uma miséria franciscana.
Os Fuzos tinham instalações de pedra e cal, nós
as simples tendas de campanha.
Os Fuzos tinham geradores eléctricos, nós a luz das velas. Desde há muito, que tínhamos o stock das camisas (e não camisinhas) dos petromax, esgotado.
Os Fuzos tinham geradores eléctricos, nós a luz das velas. Desde há muito, que tínhamos o stock das camisas (e não camisinhas) dos petromax, esgotado.
Refiro entretanto, que durante a nossa estadia tivemos
uma sã convivência com estes fuzos, mesmo até uma relação de amizade.
Ao terceiro dia nesta povoação, tivemos a visita de um Fuzo, que montado no seu belo Unimog a gasolina, veio
transmitir um recado do comandante.
Os Senhores tem de comparecer hoje sem falta no
quartel dos fuzileiros, até à hora do jantar.
É pá!...Será que era nossa
obrigação, apresentarmo-nos aos Fuzos, quando rendemos a nossa tropa? Estamos
tramados!...
Apreensivos, lá fomos (o alferes Costa, Eu e o furriel Brito) a cavalo num "burro do mato a gasóleo", pensando na repreensão que íamos levar.
Fomos recebidos à porta d'armas com todos os
salamaleques, e "dentro" ao sermos anunciados, ouvimos um arrastar de cadeiras.
Uma porta se abriu e entramos na enorme sala de jantar.
Uma porta se abriu e entramos na enorme sala de jantar.
Todos de pé à volta da mesa, com um sorriso malandro destacou-se o Chefe.
De imediato em silêncio, escutamos:
Constatamos que os senhores ao fim de três dias
por estas paragens, cometeram três faltas graves. Ou seja: Não se dignaram
fazer-nos uma visita de cortesia para jantar connosco. Que não se repita. Boas
vindas, sentemo-nos e bom proveito.
Agradavelmente surpresos com tamanha simpatia, depois de bem comidos e bem bebidos, ouviram as nossas carências.
Para nossa surpresa, no final do repasto, ofereceram-nos uma mão cheia "das ditas" para os petromaxes.
Para nossa surpresa, no final do repasto, ofereceram-nos uma mão cheia "das ditas" para os petromaxes.
Depois disto
no que respeita ao futebol, as
nossas tropas nos frequentes confrontos, demonstravam que afinal sendo
diferentes, éramos iguais ou até melhores.
Quartel dos fuzileiros
O nosso pão continuava a ser cozinhado num
forno a gasóleo, dando bem para notar no seu sabor. O cozinheiro já tinha revelado
por diversas vezes, que se tivesse um forno a sério e a lenha, “outro galo
cantaria”.
Um dia fizemos-lhe a vontade. Pedi ao Sr. Silva
(o Samuapa*) chefe da brigada da JAEA, que no regresso do trabalho trouxesse
umas pázadas de barro para construirmos um forno.
E dito e feito.
Supervisionando a obra, baseado nas
indicações existentes nos manuais de sobrevivência, orientei a construção. Em vez
de cimento armado, fizemos em barro aramado. Há falta de ferro, a estrutura foi executada
com pequenos ramos e canas. Sem tijolos, fizemos uns moldes para executar adobos
com uma mistura de barro e capim.
Confesso que já sonhávamos com um belo assado: quem sabe, talvez no meio do tabuleiro que tinha sido usado pelo mecânico para lavar as peças, uma "cabrinha do mato" rodeada com batatinhas novas
(velhas, cortadas em quatro e arredondadas nas pontas), acompanhada pelas Cucas ou Nocais da nossa arca frigorífica a petróleo...
*******
Trabalhando com afinco, logo no segundo dia
encheu-se desde a base à soleira.
No terceiro, enquanto que o sol abrasador dava consistência secando o barro, com muito cuidado fez-se o “vigamento” da parte superior.
No terceiro, enquanto que o sol abrasador dava consistência secando o barro, com muito cuidado fez-se o “vigamento” da parte superior.
No quarto dia, entusiasmados, começamos bem cedo, terminando a
obra ao final da tarde.
Extenuados, depois de comer aquela que seria
talvez das “últimas” rações de combate ao jantar, recolhemos aos nossos aposentos para um
descanso bem merecido.
A partir de agora, é que vai ser….
Era noite cerrada, quando
ouvimos uma tremenda explosão.
Teria sido um ataque? Uma bazucada?
Teria sido um ataque? Uma bazucada?
Agarramos de imediato na G3, mas logo se
descobriu o que acontecera.
A culpa foi do cozinheiro que
ansioso
por inaugurar o forno, não esperou pelo dia seguinte. Vendo que a obra estava
concluída, e “como ainda era cedo” quis fazer um teste. Segundo contou, para fazer as brasas acendeu uma pequena fogueira que se apagou logo após. Com o ambiente húmido e
água ainda a escorrer do tecto, fez mais três tentativas que não resultaram.
Então pensou numa solução drástica e infalível.
Vendo que a fogueira uma vez mais definhava, dirigiu-se a um Unimog sacou o jerrican e:
Vendo que a fogueira uma vez mais definhava, dirigiu-se a um Unimog sacou o jerrican e:
Consciente do perigo "segundo disse" a uma distância
segura, para atiçar o lume lançou uma golfada de gasóleo directo à
fogueira!...
Resultado: Ainda o encontrei petrificado (qual estátua)
com o jerrican na mão todo negro e chamuscado, e só quando o abanei é que
reagiu. A tragédia estava à vista.
Com poucas horas de vida, a
abóbada do nosso querido forno
tinha ido pelos ares.
tinha ido pelos ares.
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