quinta-feira, 19 de junho de 2014

Procurei, procurei...

Mais duas ou três.

CAMARADA:  Reconheço  que todas as Minhas Lembranças que aqui tenho postado neste nosso Blogue, carecem de um índice sequencial, o que dará mais sentido ao desenrolar dos mais de dois anos da minha guerra, por terras de África. Dado que “como já escrevi” surgem quando menos espero, são por isso mesmo aqui colocadas, aleatóriamente.                                     Em breve irei atribuir nºs de página.
(Infelizmente, este "problema" a Ti não se põe, com respeito às histórias que enviaste!..)

Tal como Tu, por vezes basta-nos pensar algo ou ouvir falar de guerra, para que uma pequena “faísca” nos ocorra na mona, e aquilo que parecia estar esquecido para sempre, surja do nada.

Neste caso, bastou ter ido visitar o renovado Museu da Guerra Colonial de Vila Nova de Famalicão, ouvir e olhar umas fotos para me lembrar de mais estas peripécias que contarei a seguir.

Nesta minha visita, tive a sorte de me incorporar num grupo desconhecido, de “turistas”.

Logo à entrada, deu para perceber pelo cambalear, que o “cicerone do museu” era um dos muitos Deficientes das Forças Armadas. Mas isso não o impediu, de ser uma pessoa simpática, bem-disposta e extrovertida. Perguntou aos recém-chegados se existiam ex-combatentes de guerra, e no meio de um autocarro de homens e mulheres, uns muito mais novos e outros, pouco mais velhos que Eu, descobriu-se que além de mim, existiam mais dois “no grupo”.

Além do Senhor do museu, também Eu ia esclarecendo alguns curiosos, acerca do que se ia vendo e lendo. A certa altura “entre as rações de combate, pernas artificiais, cantil, mochilas etc”, o anfitrião falou, nos produtos de higiene utilizados no dia-a-dia das nossas tropas. No seguimento perguntou se alguém sabia o nome “e para o que servia”, duma pequenina bisnaga que sobressaia em cima de um bilhete de identidade militar. Todos olharam a coisa insignificante, e ficaram na expectativa da resposta. Certo: tu que a utilizas-te já sabes do que se trata. ….Mas, continuando: Em vez de esclarecer, deixou para os ex-militares a resposta.

As pessoas intrigadas com os nossos sorrisos “Elas, muito mais” olharam para nós, e os camaradas inibidos, nada esclareceram. Depois viraram-se para mim e tive de ser Eu a dizer que a bisnaguinha nada tinha de especial, e se tratava sómente de um espermicida. Há pergunta delas, “como se utilizava”. Tive de resumir, mas pelos vistos ficaram esclarecidas.

(É muito ingrato, isto de dar explicações ao vivo e ao sexo feminino, sobre estas matérias)
Como ex-desenhador, era muito mais fácil para mim, ter feito um desenho…

Continuando:

Reparas com certeza, que nada do que tenho escrito, foi antecipadamente pensado ou estruturado.


Mas pelo contrário, tenho verificado ao longo dos anos, que existem guerrilheiros com estórias mirabolantes, precisas e "verdadeiras" de muitos (internos do arame farpado, ou mangas de alpaca) que nas raras saídas do bem bom, “quais repórteres de guerra”, parece que já iam de máquina fotográfica a tiracolo, prontos para bater a chapa, no local e na hora exacta. É vê-los, olhando o passarinho e ostentando uma G3, numa pose hollywoodesca, sorridentes e despreocupados. Enquanto que Nós os operacionais, “fartos dessa arma até à ponta dos cabelos, que já nem a podiamos ver”, alombavamos com ela a toda a hora, bem como ainda, todo o material bélico, correndo riscos constantes, fazendo escoltas, operações diversas, quase todas no mato e “à lá páte” de 4 ou 5 dias e por vezes mais, procurando afastar os “turras” do arame, ou arranjando sarna para nos coçar. ...Mas afinal, malacomparado, ...descubro que dormi o tempo todo.


Parece que só eles é fizeram a guerra, e até acho que é verdade!...
Pois, além de não constar na lista das Condecorações e Louvores do Batalhão,
pelos vistos e ao contrário de muitos, além da minha obrigação nada fiz de transcendente, e é bem verdade

por isso Procurei procurei...talvez...farejei, faregei
E descobri que fotográficamente falando, quase nada possuo para exibir,
que testemunhe tudo aquilo que tenho escrito.

O Meu Camarada de pelotão Furriel Brito, nada pode testemunhar, pois está desde que terminou a nossa guerra, nos Estados Unidos da América, e pelos vistos tentando ou mesmo até já esqueceu, todas as suas lembranças.
- Fotografias que justifique Eu ter sido atirador, onde ostensivamente segure a minha G3 que sempre me acompanhou, “Não tenho nenhuma”.
- Fotografias que justifique Eu ter tirado o Curso de Minas e Armadilhas, mesmo um reles detonador eléctrico ou pirotécnico que tantos escurvei, transportei, armei e rebentei “Não tenho nenhuma”.
- Fotografias das Minas, que carreguei em mãos, que montei ou desmontei, (todas elas verdadeiras, completas ou ás peças) que usei no dia a dia, e até quando dei aulas num curso de Minas e Armadilhas no Agrupamento de Engenharia de Luanda, e que serviram de material didáctico,  depois..estouradas, “Não tenho nenhuma”.
- Fotografias dos explosivos TNT, dos plásticos, do 808 e afins... “Não tenho nenhuma”.
- Fotografias Montado ou a segurar os cornos do animal, de outras ou daquela vez que matamos 6 Gnus "boi cavalo" para abastecermos a nossa companhia e a CCS, ...tirei fotos para alguns camaradas, mas pramim "Não tenho nenhuma".
- Fotografias de tantas fotografias, a Preto e Branco, tiradas pelo Sargento Larcher, que entretanto colori  ao quase todo pessoal da minha Companhia  e não só... "Não tenho nenhuma".

Porra, assim é demais. Embora também andasse muitas vezes armado de máquina fotográfica, nunca valorizei essas coisas, por serem tão banais. Sou um fraco paparazzi.
Mas, ESQUECE...volto já seguir.

7 comentários:

  1. Amigo Pimenta : aceita "5 estrelas" para este artigo e , já agora , também um biscoito para o cão .
    Do ex-Furriel Fernando Temudo

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  2. Amigo Temudo:
    Aceito só 4 e o biscoito. Perguntarás porque recusei uma estrela. Mas Eu explico.
    Só posteriormente é que descobri o erro. Quando escrevi: (alombavamos com ela *G3* a toda a hora) não era bem assim... pois esqueci-me das vezes que a emprestei, para que outros tirassem uma fotografia.

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  3. Porque é que o furriel não tirou umas "selfies?"

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  4. Concordo plenamente. Não era por acaso que aos "Especialistas", em vez da G-3, era distribuída uma Fisga ...

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    1. Ehehe …. Gostei dessa e confesso que não sabia.
      Embora soubesse que entre os “especialistas” existiam alguns “especiais”.

      Essa da Fisga “acho que estás a brincar” está muito boa. Trata-se de uma arma de arremesso “de tiro tenso” parente pobre da Catapulta “de tiro curvo”.

      E a brincar também acho, que dependendo da especialidade, deviam usar, por exemplo:
      - A “Especialidade” de Atirador de Infantaria “chefes dos que alombaram” com o maior sacrifício. Deviam usar e usavam a G3
      - A “Especialidade” de Transmissões “chefes dos radiotelegrafistas”. Deviam usar à cinta, um Walkie-talkie
      - A “Especialidade” de Mecânica “chefes dos mecânicos” Deviam usar à cinta, uma chave inglesa.
      - A “Especialidade” de Enfermagem “chefes dos enfermeiros” Deviam usar à cinta, uma seringa.
      - A “Especialidade” de Vagomestre “chefe dos cozinheiros” Deviam usar à cinta, uma colher de pau.
      Etc etc..

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  5. O nosso Furriel, pode-me dizer -se conhecer, é claro- quais foram as trancendências dos que foram laureados?
    Se o furriel não souber, talvez possam responder, alguns dos que foram

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  6. Oi pessoal...
    Evitem sempre que possível, comentarem como Anónimos.....OK?
    A comissão agradece!.

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