terça-feira, 21 de novembro de 2017

A Catástrofe de 1967

Catástrofe de 1967

Relacionado com o tema em epígrafe, recebi do ex-Furriel António Vilela o texto que se segue:
Caros Amigos
É revelador a forma de apresentar e de divulgar as notícias. Como seria hoje a divulgação desta tragédia?
Sou testemunha ocular deste triste acontecimento.

Saí de Santa Margarida na terrível noite do 28 de Novembro no já distante ano de 1967.

Noite de muita chuva, muito frio, acompanhado do muito vento. Fomos só até Alenquer de comboio, porque não se podia ir mais além, pois estavam pontes caídas. Então fomos de autocarros até à Rocha de Conde de Óbidos. Era tamanha a desgraça, que mais parecia que já estávamos na guerra. Ainda me lembro algumas imagens que jamais esquecerei. Tanta era a lama nas ruas, que os bombeiros e os populares ainda não tinham retirado alguns cadáveres. Na guerra felizmente, não tive tamanha desgraça. Tudo isto para continuar a recordar. Um abraço a todos A. Vilela.


Quanto a mim, embora um pouco mais novo, também lembro os dias seguintes a esta tragédia.

Recordo que o meu irmão mais velho (já falecido) Furriel António Pimenta, prestava o Serviço Militar no Quartel de Sacavém e tomou parte no socorro às vitimas de tal desgraça.

Eu, nessa data, trabalhava na The Anglo-Portuguese Telephone Company ou APT, popularmente chamada
“Companhia dos Telefones”.

Tinha acabado de cumprir no dia anterior a esta tragédia, uma tarefa para qual tinha sido nomeado. E qual tarefa pergunta o leitor?

Exactamente: Desmantelar a velha Central Telefónica de Perafita,
"ainda do tempo de meter a cavilha"
já que a mesma,
(Perafita, Freguesia de Matosinhos próxima do Aeroporto do Porto)
tinha sido substituída por uma nova, Semi-Automática.


















Eis-Me aqui sentado, em frente a um PBX, semelhante aos que existiam na Central.

Esta “odisseia” já foi referida algures aqui no blogue, mas vale a pena 
Sintetizar.

Sempre que nós os Técnicos da Secção da Construção terminávamos a montagem de uma Central “mais moderna”, era comum desmantelar-se dias depois, a Central substituída.
Foi exactamente esta tarefa que na altura me foi atribuída. A equipa que eu chefiava partiu da “base” armada com todo o equipamento necessário.

Chegados ao objectivo, deparamo-nos com uns renitentes parafusos que fixavam o equipamento que por estarem demasiado corroídos, não saiam nem à lei da bala. Perante tal facto “como ao lado da central existia uma oficina de motorizadas” fui pedir ao Senhor que me emprestasse ferramentas adequadas à situação.
Regressamos então com duas marretas.

Como a ordem era para DESMANTELAR, eis-nos à cacetada, pontapé e canelada aos quase centenários equipamentos e num ápice atingimos o objectivo.

Na tarde do dia seguinte, fui chamado às chefias (não sei se, Ingenheiros, dótores ou coróneis) que após me derem a notícia da tragédia em Lisboa, quiseram saber porque é que Eu não usei de mais cuidado, nos trabalhos que fui fazer.
Santa ignorância. Todos “mangas-de-alpaca” tiveram de ser elucidados.
Expliquei-lhes a diferença entre desmontar e desmantelar e entendendo lamentaram o equívoco.
Estavam agora entalados, porque tinham de dar o dito pelo não dito, uma vez que “ignorantes” se prontificaram a enviar a central velha de Perafita, para substituir uma das que foram arrasadas pelas cheias.

Foi isto “em resumo” o que me liga às cheias de 1967



No caso do leitor querer saber tudo ou quase tudo a respeito desta tragédia, carregue no link abaixo, e ficará informado.


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