Fui “convidado” para dar um
curso de minas e armadilhas no
AGRUPAMENTO DE ENGENHARIA DE ANGOLA
AGRUPAMENTO DE ENGENHARIA DE ANGOLA
Os meus alunos eram quase todos, os chamados
“brancos de 2ª”.
Com muitos meses de guerra, já quase todos tinham visto de perto algum material
explosivo, só não o tinham manuseado.
Era uma vantagem, pois não foi difícil incutir-lhes o quão perigoso era o Curso que iriam frequentar.
Era uma vantagem, pois não foi difícil incutir-lhes o quão perigoso era o Curso que iriam frequentar.
Ficou combinado desde logo que
durante a semana, seriam somente dadas as aulas teóricas. As práticas só ao
fim da semana.
Podiam ver, tocar, bater e até morder o trótil. Com o explosivo
plástico 808, permiti que dessem largas à imaginação. Moldavam-no com as mãos,
dando-lhe as formas que quisessem (e que formas). O 808, para cortar carril, era
só visto. Uma “cobra” feita esfregando as mãos, contornar o carril, ignição, e: já tá.
É expressamente PROIBIDO QUALQUER EXPLOSÃO, nem
mesmo das bombinhas de carnaval. Quase todos os explosivos militares, não podem
ouvir uma explosão por perto, porque rebentam por “simpatia”.
Alguém sugeriu que durante o curso, devia ser proibido, comer feijoada (essa não entendi). Com este pessoal, pudemos dar largas á imaginação na componente das Armadilhas. Descobri neles um apurado “requinte de malvadez”.
Alguém sugeriu que durante o curso, devia ser proibido, comer feijoada (essa não entendi). Com este pessoal, pudemos dar largas á imaginação na componente das Armadilhas. Descobri neles um apurado “requinte de malvadez”.
Todos (pelos vistos, menos um) concordaram em cumprir a
ordem:
Não é permitido “roubar” material.
Certo dia, estranhei ser abordado pela
Polícia Militar, ao pediram para confirmar se Eu era um Furriel das Minas e Armadilhas.
Certo…e Porquê?
Certo…e Porquê?
Suba venha connosco. Temos
um problema ali num Café, com um soldado bêbado.
Quando lá cheguei estava todo o
mundo fóra do estabelecimento, tinha sido evacuado.
...O militar, estava a jogar. Para chegar à bola
lá ao fundo, debruçou-se todo sobre o bilhar, e depois falou bem alto:
Fo..-se, não fui pelos ares porque não
calhou.
Na frente dos clientes, começou a tirar do bolsinho das calças para
cima do bilhar, um, dois, três…Sete detonadores pirotécnicos amolgados.
Todo o mundo fugiu para a rua, e de imediato o soldado foi detido por alguns populares.
Todo o mundo fugiu para a rua, e de imediato o soldado foi detido por alguns populares.
Repirei fundo e... O que fazer? Se não rebentaram ao serem assim
tão maltratados, não seria agora.
Pedi um jornal, e deram-me talvez uma dúzia deles.
Não
demorei muito, e entre aplausos e vivas, saí do café com sete bolas de papel,
levemente amachucado.
A PM não sei, mas Eu no dia seguinte, dei um raspanete ao
inconsciente ameaçando-o com uma participação.
Esse material didáctico, foi “derretido” como sempre
na aula prática, do fim-de-semana.
Era poupadinho, mas não podia terminar o
curso com stock.
No último dia, levamos connosco tudo o que restava e fomos para um local isolado como de costume.
No último dia, levamos connosco tudo o que restava e fomos para um local isolado como de costume.
Entre dezenas de materiais, havia um grande
rolo de cordão lento (pirotécnico) que ninguém quis. Assim, e no meio de um
rolo do cordão detonante, metemos tudo o que restava. TNT, minas e granadas de diversos tipos,
torpedos bengalórios, detonadores etc. etc. No exterior o tal cordão lento com o
respectivo detonador.
Acendi o rastilho e para não estarmos de plantão (a coisa era demorada), e por ser muito perto, fomos todos para a praia jogar à bola.
Com o entusiasmo já esquecidos, não ganhamos para o susto ao ouvir a tremenda explosão.
Acendi o rastilho e para não estarmos de plantão (a coisa era demorada), e por ser muito perto, fomos todos para a praia jogar à bola.
Com o entusiasmo já esquecidos, não ganhamos para o susto ao ouvir a tremenda explosão.
Foi um estrondo
enorme, parecia até que os deuses se tinham zangado. Confesso que ainda
hoje me arrependo, não ter ido ao local confirmar se tudo tinha desaparecido,
mas "porque era perigoso"… Achamos todos que sim.
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